Wednesday, May 30, 2012

work in progress #10

uma pessoa que nao se identificou nos comments do post anterior disse que as fotos estao feias e falsas. me partiu o coracao a pessoa nao se identificar, o que mostra que ela queria mais ofender do que opinar. dizer isso e assim é tao superficial quanto as fotos que a pessoa disse que eu fiz.

mas me encorajou bastante a aceitar algumas incapacidades minhas e da fotografia como mídia. toda mídia é incompleta, imperfeita. dependendo do que a gente quer comunicar, encontramos alguma mídia que tenha menos falhas praquele discurso. ou escolhemos a mídia e trabalhamos o discurso da maneira que melhor se encaixe nas imperfeicoes dela.

eu sei que as fotos estao superficiais. eu nao sou cega. estao superficiais mesmo com todo meu afinco, minha preocupacao, com as duzentas horas passadas juntos. mas acho que agora sei melhor aonde ir. em vez de me perguntar como resolver, posso simplesmente me adaptar.

minha ideia era simplesmente, através da intimidade que se consegue apenas com o tempo, conseguir fotografá-los como ou quase como eu fotografei minha vó (nao me refiro ao humor, mas à intimidade), armin, joerg, eu mesma.

dia 10 de maio eu os convidei para vir jantar na minha casa. nao foi nada demais, foi como foi. nao tem drama, nao tem nada de chocante nem de triste. aí fico me perguntando como, em vez de tentar adicionar coeficiente de interessância onde nao existe, eu posso usar isso ao meu favor. posso aceitar o tédio como ferramenta. por que nao? afinal, isso aqui nao é fotorreportagem, é fotoficcao.










pra ler o work in progress #9.


Tuesday, May 29, 2012

al-femea comenta

1. al-femea celebrou com uma colherada extra de nutella a notícia de que o programa de rafinha bostas, comediante que acha estupro um ato de caridade, estreou com quase zero pontos de audiência.

hahahahaahhahahaha
que amor!

2. a schin (disse) que tirou do ar a propagandinha que faz piada com as trava. aina bem. nao me venham encher o saco sobre liberdade de expressao, que essa "expressao" nao dá nada pra ninguém portanto nao precisamos dela. fico puta da minha vida quando o povo usa esse argumento de liberdade de expressao pra se defender, porque esse termo virou tao farofento e mal-usado tipo "exercer a cidadania", que ninguém sabe mais direito que buceta significa mas fala porque soa inteligente. quando um tabacudo feito rafinha bostas defende suas piadas e seu direito de liberdade de expressao, penso em todas as pessoas com realmente algo a dizer e ensinar e que, essas sim, tiveram que se calar ou se exilar ou se matar. de chico a sócrates, de caetano a alan turing. sei lá.

ai susan

"i'm only interested in what i can admire"


entendi, susan sontag. entendi tudo a vida o mundo.

Monday, May 28, 2012

work in progress #9

no dia 6 de maio fomos visitar um jardim bem no sul da cidade. era festival de tulipas. a coisa mais linda. e nada mais. e só.

eu tenho um problema. aliás, dois.

o problema número 1 é: os meninos nunca fazem nada. apesar de receberem um ticket mensal que dá direito a usar toda a linha de transporte público, eles estao sempre em casa. os compromissos deles se resumem em ir ao médico e ao psiquiatra, e às vezes à ong que os orienta. ou seja, nao existe uma rotina preu fotografar. e o lazer deles nao inclui a cidade, o mundo lá fora. eles ficam em casa no facebook. e na casa deles eu nunca posso ir - toda vez que sugiro, a casa está suja, o gato está doente, o landlord vai fazer uma visita. entao, até agora, estou vivendo de "pautas", coisas que eu sugiro, porque simplesmente nao sei mais o que fazer. sugiro de irmos tomar um café nao sei onde, de irmos ao centro ver as pessoas, de ir no parquinho. mas isso nao diz nada sobre eles, nem sobre mim, e eu estou totalmente perdida. nao quero que meu projeto seja sobre dois transgender e uma fotógrafa dando rolê em berlim.

o outro problema é o formato. tentei comecar com médio formato pra sair da minha zona de conforto, e porque eu acho que misturar formatos combina como o projeto. quando levei os primeiros resultados pra sala de aula, no entanto, alguns disseram que era interessante ver minha luta com médio formato, mas que eu nao sou boa nisso. outros disseram (incluindo meu prof. novo, ludwig rauch, que é maravilhoso apesar de nesse ponto eu nao ter concordado com ele) que era preu voltar a fotografar snapshot como fiz com vovó, e com mais humor (mas como, respondi, se a vida dos dois nao tem a menor graca pra eles...). outros falaram preu ficar com a câmera 35 mm. falaram preu comprar filmes melhores, falaram que minhas fotos têm "muito magenta", e nao têm foco. por alguns dias me preocupei com tudo isso, ai meus deus, fiquei neuvosa querendo fazer as coisas como nao gosto ou nao me interessa.

o ponto é: eu sei focar. eu sei que filtro usar pra corrigir uma determinada luz, ou que filme escolher pra tal luz. mas eu nao quero. já penso tanto em como inventar minha história, em como contar meu conto, já passo tanto tempo sofrendo, que acho que posso prescindir de alguns elementos. nao me entendam mal: eu tive que entender e dominar a técnica, pra poder abrir mao dela. nao sou leviana.

nesse dia desse encontro, mandei todo mundo mentalmente se fuder. segui usando meus filmes baratos, de cores erradas, foquei quando deu tempo ou eu me lembrei. no documentário sobre sibylle bergemann, a grande, ela diz: "se uma foco está focada, está. se nao está, nao está". hahahaha mais concisa impossível.

a situacao nesse dia 6 de maio nao era a mais perfeita do mundo, e eu estava meio entediada desse lance "um dia sem sol no parque com duas pessoas que eu nao conheco". eu nao faco a menor ideia se esse projeto presta, porque estou até agora nadando na superfície e quando enfio a cabeca, tampouco vejo águas profundas.

aos poucos vou vendo que, apesar de estar feliz de ter encontrado esses dois, se meus personagens nao me comovem ou nao me intrigam, minhas fotos nem me comovem, nem me intrigam.









Sunday, May 27, 2012

e a marcha das vadias, gente?

juro que nao fiquei sabendo (shame on me) de nada, senao teria divulgado aqui. se houver meia dúzia de representantes do al-femea que tiverem ido, em qualquer cidade do brasil, favor contar um pouquinho nos comments! :)

ano passado compareci à marcha que teve em recife, e fiquei meio deprimida, porque por causa de teimosia a marcha acabou perdendo seu foco e no dia seguinte os jornais nao falaram nada sobre as questoes que a marcha se pretende a levantar, senao sobre a "bagunca" causada na conde da boa vista.

espero que algumas de vocês tenham ido e aproveito pra fazer um mea-culpa por nao ter falado nada sobre a nova data, tô passada.

aqui, dois links sobre o assunto:
meu amado vitorangelo sobre as bicha e as vadia, um texto muito bonitinho.
e xico sá sobre vadias históricas do brazeel.

update:
minha amiga clarissa mandou um pequenino relato de como foi em recife, e umas fotos. os vídeos eu nao consegui abrir :(

Ami, 
Fomos na marcha ontem: eu, raquel e Ratton. Foi massa. Foi bonita, tinha muito mais gente do que no ano passado, estava mais animada, mais criativa. Sempre tem micro confusões do tipo ocupar ou não as duas faixas, ou fechar o cruzamento. Porque tem gente que acredita no potencial dessas atitudes, enfim... Mas não houve nada grave. Foi mesmo bonito. 


Acho que essa onda de neo-movimentos, mobilizações internéticas e mesmo as coisas que o movimento pelos direitos urbanos (#ocupeestelita) tem feio por aqui, tem agitado mais a cidade. To te mandando fotos e vídeos que fiz para tu (não vai dar em um email só). E você esteve lá comigo. ;) 






Saturday, May 26, 2012

bela merda

agora existe lei que criminaliza a homofobia, minha gente. bela merda. na teoria é lindo, a gente se anima e tal. mas mais importante que a existência da lei, é a sua aplicacao. vocês acham mesmo que um playba na buatch na vila olympia que passa a noite xingando o barman de viado vai pra cadeia? nao vai, porque viado, sapatao e mulher é tudo a merda pra quem "aplica" as leis no brazeel.

um bom exemplo é a lei maria da penha, que todo mundo adora falar que existe. mas que nao faz diferenca nenhuma na vida de uma vítima que decide denunciar, porque quase todo mundo sempre pensa que quem foi estuprada tem culpa, quem apanhou provocou a raiva do marido etc etc.

beijos, nao me animei em nada com a notícia. 
tchau.

Thursday, May 24, 2012

work in progress #8

na segunda vez que encontrei com miki e kai, dia 26 de abril, tínhamos marcado deu ir pra casa deles e a gente cozinharia, fofocaria e faria umas foto véia. eles moram muito longe, levei horas pra chegar e achar a rua ("horas", que drama) e quando estava quase na porta, miki manda um sms dizendo que eles tinham dormido demais, por terem dormido demais nao tinham arrumado o apê e nao queriam que eu subisse. entao era preu fazer o que? voltar pra casa? fiquei meio chocada. podiam ter me avisado um pouco mais cedo, em vez de desmarcar quando já estou lá.

no momento que li o sms me deu muita raiva. primeiramente porque sempre rola a ansiedade, expectativa do novo encontro, e cancelar assim, ou qualquer outro contratempo, desgasta emocionalmente. e também porque, porra, achei meio falta de educacao hahaha #sinhazinha-ofendida. saí de casa toda cheia de cacarecos (câmeras, filmes, objetivas etcetc), comprei a sobremesa, a porra toda, e em cima da hora dizer que nao vai rolar é fueda.

mas acontece, né. aí respondi: "nao rola da gente entao fazer alguma coisa?". aí eles explicaram que se eu quisesse podia acompanhá-los à ginecologista (!) e ir pegar a receita do antidepressivo no psiquiatra. claro que sim, respondi. apesar de ter achado deveras esquisito eles terem marcado comigo na casa deles, mesmo sabendo que tinham outros compromissos marcados para mesma hora naquela tarde. enfim, fomos juntos.

e passamos a tarde andando pra cima e pra baixo resolvendo as pequenas coisas que eles têm que resolver. uma coisa que notei é que as pessoas olham muito pra eles, às vezes com hostilidade, e fiquei sem saber se era por serem punks, ou por serem gays, ou porque as pessoas conseguem sacar que sao duas meninas.

perguntei como eles se sentiam com o povo olhando, se incomodava. michael respondeu que as pessoas olham ou comentam mais pelo fato de serem punks, do que por serem um casal de gays (contextualizando: por serem dois meninos por dentro, eles nao se vêem como duas lésbicas, e sim como dois gays) e como isso é uó e tal e tal e tal. kai, que fala bem menos - quase nada - mas é bem mais inteligente, respondeu apenas: "uai, nao me incomoda, entendo que as pessoas olhem, nao somos duas figuras comuns".

nesse dia sentamos nas escadas da sub-prefeitura de neukoelln e ficamos umas duas horas olhando as pessoas, conversando, conversando com outro punk sem-teto e tal. sempre me dá uma tristeza quando os encontro, nao somente pela tragédia pessoal de cada um (já expliquei, famílias destrambelhadas, solidao, nenhuma aceitacao; além das coisas que nao sei, só sei que há coisas graves sobre as quais eles nao querem falar), mas também como eles dois têm um nível de autopiedade nada nada nada saudável, e um apatia que meu deus. uma falta de ambicao, nao ambicao de ficar rico e poderoso, mas de fazer qualquer coisa, uma ausência de paixao, uma ausência do que fazer que nao ajuda ninguém. eu entendo tudo, só me irrito um pouco com a autopiedade, as desculpas, tudo é complicado. essa é uma característica que me irrita em geral, em qualquer pessoa, vale dizer, nao somente nos dois.

nessas horas me lembro de grete, que nao tinha nada de autopiedade (pelo menos nao era um traco visível na sua personalidade), tinha lutado pra se incluir, fez facu, trabalha, mora só e ganha sua grana. mas nao posso ficar comparando, nem me dar oportunidade pra ter abuso, porque preciso vivenciar essa história como ela é, e nao como eu queria que ela fosse. grete ficou tao forte em mim que a sensacao é como se eu nunca mais venha a encontrar ninguém como ela. e eu nao posso sentir isso, o mundo é enorme e cheio de gente.

mas enfim, miki e kai apareceram por algum motivo. nao sei ainda qual, mas uma hora eu descubro.






Wednesday, May 23, 2012

vovó na minha escola

todos os anos, em junho, minha escola faz um "dia das portas abertas", quando interessados em estudar lá no próximo ano letivo podem fazer visitas guiadas pelo próprios estudantes, pra conhecer o espaco, os equipamentos etc etc (esse ano incrusive eu serei uma das guias, eu e toda minha simpatia haha).

e é nesse dia também que abre a expo da escola. quer dizer, nao é exatamente uma expo, mas sao as fotos que vao enfeitar a escola até junho do ano que vem. os professores escolhem quem vai expôr e o quê, e eles escolherem seis fotos da minha vó!

hoje foi a montagem. e como nao bastasse eu mostrar minhas foto, ainda sou a musa de um projeto de um outro aluno hahaha #diva



Tuesday, May 22, 2012

work in progress #7

eu devo dizer aqui mesmo sabendo que dizer isso nao é legal, que eu nunca quis fotografar um transmann, simplesmente porque nao consigo entender como alguém pode nao querer ser mulher. eu acho que temos muito mais potencial pra ser interessantes do que um homem hahaha mas isso claro faz parte da minha idiotice, e dos preconceitos que eu tenho e dos quais nao me orgulho e tento consertar.

assim que, quando michael me escreveu, fiquei feliz, claro, pela iniciativa dele, mas meio de bode com o destino. estava muito mais interessada no universo de alguém que é uma mulher por dentro, uma pessoa com quem eu teria muitos mais pontos de identificacao. mas bom, o destino, esse moco pimpao, maaaais uma vez e como sempre me ensinando coisas, mesmo quando nao as quero aprender.

e lá fui eu, com minha yashica emprestada, encontrar com michael e kai. me deparei com dois punks, do mesmo tamanho que eu, e muita, mas muita vontade de contar sua história. nao me encantei com nada, e exatamente por isso tenho certeza que encontrei as pessoas perfeitas pro meu projeto, e pra minha evolucao como pessoa.

os dois vêm de famílias destrambelhadas, nao tinham amigos nem eram aceitos nos vilarejos dos quais vieram (michael, dos arredores de bonn e kai, dos de hannover). tiveram namorados gays que nao os aceitavam, e namorados heteros que tampouco, até que se encontraram, duas meninas meninos por dentro. e juntos comecaram o processo de hormônios, terapia e mudanca de documentos. michael já tem todos os documentos e se prepara pra operacao. ele tem 24 anos. kai ainda espera pela mudanca oficial de nome e tem 22.

eles vivem longe de casa, moram juntos num apartamento que tem 24 metros quadrados e a impressao que tenho é que eles vivem num filme de amor caótico, meio "nós dois contra o mundo".

essas sao as fotos do nosso primeiro encontro, num café em kreuzberg.




pra ler o work in progress #6

clipping al-femea

para as leitorinhas a fim de comecarem bem seu dia:
as trava de buenos aires arrasando na escola. fiquei cos olhos cheios de lágrima lendo as história.
e luma andrade, travesti e doutora, tema do meu primeiro filme (quando eu fizer um).
hahaha bem que o al-femeae dissseeeee

ou bem mal:
ir pra cadeia que é bom, ninguém quer. quer dizer, a punicao do cara é voltar pra casa. tá lindo, brazeel!
um mês de cadeia é de lascar (coitada dessa mae)!
o povo tá ficando cada vez mais criativo
sinceramente, o cara vai ser libertado com 46 anos... o cara estuprou bebês, porra, bebês! be-bês! quem estupra um bebê mata a mae! nao, o al-femea nao gostou da sentenca.

nao sei o que pensar:
sei lá, júri popular soa bom, mas os pessoal sempre se pode dizer que a culpa foi das mina...

Monday, May 21, 2012

work in progress #6

por sorte, muita sorte, no dia 4 de abril (ou seja, já antes de grete me largar), me chegou um email de um menino chamado michael.

  ---------- Forwarded message ---------- 
From: Michael E**** *****@hotmail.de
Date: 2012/4/4 
Subject: Fotoprojekt 
To: ivanova.ivanova@gmail.com 


 Guten Tag Adelaide, 


 ich habe von der Schwulenberatung erfahren, dass du ein Projekt vor hast. Ich würde mich gern für Fotos zu Verfügung stellen, wenn es evtl möglich ist auch Partnerfotos zu machen würde mein Freund(Transmann) auch anschließen. 


Vielleicht stelle ich mich mal kurz vor, ich bin schlecht in sowas XD 


 Ich bin Michael, meine Freunde nennen mich Miki oder Jeal, bin 24 Jahre alt. Ich komme ursprünglich aus Bonn, bin aber nach Berlin gezogen wegen meinem Ex-Freund. Ich bin Transmann und bekomme schon seit über einem Jahr Hormone. Bin leidenschaftlicher Cosplayer und zeichne für mein Leben gern :) 


 Ich freue mich auf Antwort und evtl weitere Fragen.


 Liebe Grüße 
Miki


miki ficou sabendo do meu trabalho através da ong que o orienta, e me escreveu voluntariamente, se oferecendo pro meu projeto. nao somente ele, como seu namorado, kai, estavam a fim de participar.

controlando minha ansiedade, em vez de marcar um encontro, ficamos alguns dias conversando por email, foram duas semanas de aproximacao, até que conseguimos nos encontras.  marcamos um encontro numa quarta-feira, dia 18 de abril, ali em kottbusser tor.



pra ler o work in progress #5

Saturday, May 19, 2012

work in progress #5

só que grete sumiu. nao respondeu mais meus emails e telefonemas e sms. um amigo em comum me contou que ela se encontrava nos baixos de seus altos e baixos. ninguém mais do que eu entende.

só que eu estava tao apaixonada que foi difícil aceitar, insisti um pouco. no dia 17 de abril recebi o último sms, grete me disse que tinha gostado muito das nossas primeiras fotos, mas que andava ocupada. por sorte eu já tinha conhecido michael. fiquei triste de nao ter mais grete por perto.

mas eu a entendi e fiquei dias pensando.


pra ler o work in progress #4

Friday, May 18, 2012

work in progress #4

antes de encontrar grete, escrevi pra algumas ONGs em berlim que orientam e ajudam jovens com transtorno de gênero. na alemanha existem centenas de organizacoes que cuidam dessas pessoas, fiquei impressionada com tantas. elas foram mais abertas, recebi respostas de todas, e uma em particular, a gleich + gleich, me escreveu oferecendo pra ajudar com orientacao.

fui encontrar a socióloga que trabalha lá, ingrid, e tomamos um café num café dentro dum cemitério (belo). ingrid me explicou muitas coisas que eu nao sabia, e eu me senti uma imbecil por parecer estar apenas interessada no assunto pelo seu coeficiente freak. claro, on the border já acenava nessa direcao, e eu tenho interesse por gênero e sexualidade, mas conhecimento específico sobre transtorno de gênero eu nao tinha nenhum.

ingrid me explicou que eu devia estar preparada nao somente pra lidar com questoes práticas e nao-práticas ligadas ao transtorno de gênero em si, mas também pronta para lidar com outros transtornos da alma, pois a maioria dos trangender sofre de depressao e outras tantas podem ter pânico, ou fobia social, ou borderline etc. nao é uma condicao, ela me explicou, mas é bem comum. claro, né, imagina o tanto que essas meninas e meninos nao têm que passar, por serem vistos apenas como as travesti freak show do bairro.

outra coisa que aprendi: o jeito certo de nomear. uma menina que vira menino se chama transmann e um menino que vira menina se chama transfrau (infelizmente nao sei o nome certo em português, se alguém souber, por favor comenta!).

ingrid também me disse que transgender e sexualidade nao têm relacao direta e nem regra. uma menina que se sente menino, pode se interessar por outros meninos, pode se interessar por outras meninas, pode se interessar por outro transgender, ou por outra transgender. grete, por exemplo, é uma transfrau que gosta de meninos. biologicamente, ela é gay, mas socialmente e por conta do seu gênero ela é hetero.

grete fez as cirurgias todas, mudou todos os documentos, a família dela a chama de grete e a aceitam como menina, que é, no fim das contas, o que ela é. encontrei com grete em sua casa uma tarde de marco (sim, ja faz tempo), e conversamos looongamente. grete fala manso e devagar, e tem um conhecimento enorme sobre história da transsexualidade, e transsexuais famosos, e os ativistas etc. ela é muito inteligente, e temos muito em comum. conversar com ela sobre meninos é maravilhoso, porque ela tem uma certa ingenuidade que às vezes falta em velhas machucadas como eu. a vida de grete comecou há dois anos, quando ela fez a op.

com grete aprendi que lugar de esmalte é na geladeira.



pra ler o work in progress #3

Thursday, May 17, 2012

três look véi do dia

foto que kevin tirou em brighton e mandou pra mim

foto que jakob tirou de mim e eu merma scaneei 
(má e porcamente, conforme pode-se ver)

conselho de amiga

como nao fazia há meses fiquei triste de propósito e ouvi músicas tristes e chorei e quis morrer pensando como dói tudo existir essas coisas todas

foi óitmo, saí pra trabalhar bem feliz.

Monday, May 14, 2012

work in progress #3 - grete

eu nao tenho o menor interesse nesse tema "juventude". tirando meu jovem homem, nada mais nesse universo me interessa. eu gosto de gente velha, de coisa velha, de cidade velha, de história longa e dor complexa.

fiquei me perguntando como poderia fazer pra encontrar um ponto de convergência entre meus interesses pessoais (questoes de gênero, sexualidade, relacao de experiência pessoal e espaco urbano e essa ladainha toda que vocês já conhecem) e esse tema lazarento, juventude. 

aí eu quis fotografar jovens transsexuais, mas achei meio nan goldin demais, meio fácil demais. me deu até raiva que eu pensei nisso.

mas aí me apareceu grete, e eu nao resisti. ela parecia ser a mulher perfeita pra mim. nao pode haver uma pessoa mais mulher do que a que escolhe ser mulher. grete passou por um monte de coisas e nao passou por um monte de outras. em dois encontros eu fiquei rápida e perdidamente apaixonada por ela (deu pra ver), pelo seu universo mental tao rico e tanta vida interna. pelas suas paredes almodovarianas.








Saturday, May 12, 2012

work in progress #2

como parecia que nada ia dar certo, comecei simplesmente a fotografar um jovem corpo. era o que eu tinha nas maos, e eu pensei que podia, em vez de falar mais uma vez de algo triste, podia abordar uma coisa apenas apenas nada mais que bonita. um estudo sobre um jovem corpo, fiquei pensando.








meu professor gostou bastante. só que apareceu na minha vida grete. e eu mudei mais uma vez de ideia.



pra ler o work in progress #1

Thursday, May 10, 2012

até me animei a existir


duas notícias muito simpáticas numa mesma manha! o al-femea e o al-bicha comemoram hahahaha


comentário al-femeo: em algumas questoes relacionadas a direitos humanos, a argentina está anos-luz à frente do brasil, apesar do brasil ser todo metido à merda. e eu usei a palavra "algumas", e nao "todas", porque nao sou doente mental entao nao me venham encher o saco sobre como os argentinos receberam os nazi depois da segunda guerra (o brasil também, todas sabe) e como a ditadura deles foi pior. sei dessas coisas tudo, tô falando de direito dos viado e das muié (e agora dos pré-defunto, achei bonita essa lei aí da morte digna). 

Wednesday, May 09, 2012

"ato infracional" meu orifício!

vai me dizer que um moleque de 14 anos nao sabe que nao pode bolinar uma menina de 11 - e pior ainda, contra a vontade dela?

ah, vá!

nao vai acontecer nada com esses pirra, assim como nao acontece nada com os adultos que abusam sexualmente de pessoas. todas sabemos. no caso, o pior é que eles vao crescer ca certeza do funcionamento da impunidade.

eita brasil már lindo, mainha!

work in progress #1

(às vezes esqueco que posso usar meu vodca também a favor da escritora em mim - que, coitada, está abandonada e esperneando).

em setembro deste ano vou participar de uma exposicao coletiva no centre d'art passerelle, em brest, na franca. o tema da expo é "juventude". minha vontade inicial era dar continuidade ao projeto sobre violência contra a mulher, e fotografar, do lado de cá do atlântico, meninas que tenham sofrido abuso. 

minha peregrinacao e envio de emails pra ongs, cruz vermelha, e amigos e amigos de amigos foi tamanha que nem eu mais queria falar sobre o assunto. sabe quando a cabeca cansa, quando a gente fica com abuso até mesmo de uma coisa que gosta? pois.

as semanas foram passando e eu encontrei apenas uma menina na holanda, e outra, em portugal. esse processo de "procuracao" comecou em dezembro, chegou marco e eu tinha ainda apenas duas meninas pra fotografar. e um deadline apertado - em nove de julho o ensaio tem que estar pronto, finalizado, perfeito.

comecei a pensar em planos B - nao queria abandonar meu projeto, mas também nao quero parar de trabalhar só porque as coisas andam mais devagar do que eu queria. entao decidi que ia fotografar jovens prostitutos em berlim.

e comecei aí outra rodada de negociacoes, telefonemas, apresentacao de projeto com ongs e assistentes sociais. para, no fim, receber um amigável "nao". esses meninos que trabalham com prostituicao vivem ainda como christiane f. como muitos sao menores de idade e estrangeiros, eu estaria pisando num terreno muito delicado - me explicou uma ong muito maravilhosa que trabalha com esses meninos em berlim. joerg sugeriu que eu fizesse por conta própria, simplesmente fosse dar rolê pelas ruas à noite e puxar assunto com esses meninos. e, eventualmente, fazer uma foto.

mas meu coeficiente diane arbus ainda nao está tao amadurecido e auto-confiante, e eu simplesmente nao segui em frente. me deu medo, nao vou mentir. entao esse projeto entra pra lista de coisas pra fazer antes de morrer, mas agora eu nao tenho coragem.

Tuesday, May 08, 2012

gente eu sou eu sendo que eu sou tina modotti

aqui afundada em toni morrison morrendo de inveja com vontade de ser especial achei na estante do meu homem um livro sobre tina modotti fui ler e descobri que:

tina modotti nasceu dia 16 de agosto de 1896
tina modotti se chamava na verdade assunta adelaide modotti
e o wikipedia a descreve como "atriz, fotógrafa e revolucionária".




é muito a descricao que quero ter no wikipedia quando eu morrer.




Monday, May 07, 2012

pra ler e pensar (que nao dói e é de grátis)

---------- Mensagem encaminhada ---------- 
De: Camila *******@gmail.com 
Data: 27 de abril de 2012 21:45 
Assunto: é muita gente imbecil nesse mundo 
Para: Adelaide Ivánova 


Ivi, lembrei de você ontem, mas não por um bom motivo. 


 Ontem fui numa boate com umas amigas e tal, tudo bem. A noite maravilhosa, todas adorando etc. Mas é aquela coisa, boate, playboy.. nunca vai ser tão bom assim. As pessoas não tem mais respeito ivi, é tão triste. Havia uma garota na boate, de vestido curto bem decotado nas costas, animada passou a noite eprto de onde eu estava com as amigas. Na hora de ir embora eu a vi na rua, o vestido destruido. O namorado dela ( ou ex não sei) apareceu na boate ficou com raiva, mas fingidamente agiu comos e tivesse tudo bem, chamou ela pra ir embora... já fora da boate e estando os dois sozinhos o cara resolveu mostrar a que veio. Rasgou o vestido da menina, derrubou ela no chão levou os sapatos a bolsa( além de tudo é ladrão) e a deixou ao deus dará na frente da boate. Tu já pensou ivi? as pessoas da boate não fizeram nada,as meninas que saiam não fizeram nada ( e ainda acharm justo). 


 fora toda a violencia que a menina sofreu, que é absurdo e cruel, o que mais em espanta é a aceitação das pessoas ao redor. Elas acham natural que o homem faça isso " ela tava toda nua já" "ela tava procurando por isso" eram daí pra pior os comentários que se ouvia, eu e minhas amigas levamos a menina pra casa, ela estava aos prantos, quandoc hegamos na casa dela pedimos pra mãe dela vir buscar a menina no portao, a menina tava aterrorizada né ( o cara que ela mais confia, etc) a mãe da menina embora tenha ficado com raiva disse pra menina " minha filha, vc provocou". Eu fico pensando... mesmo que ela tivesse provoicado, quem é que tem o direito de ferir e magoar dessa forma outra pessoa? não falo da agressão não, falo do comentário da mãe, das pessoas, dos seguranças. As pessoas sapateiam na dor dos outros.... 


 até quando essa gente vai pensar dessa forma?até quando a vítima vai ser considerada culpada pelo que sofreu? Tudo evolui, ams oi pensamento é o mesmo de 500 anos atrás. Nós ainda somos vistas como propriedade do homem, nós ainda temos que justificar, ainda temos que definir o que somos com base no que eles ( os homens) vão achar. Ontem depois disso tudo eu fiquei com a impreesão de que nada nunca vai mudar, não importa o que seja feito. A cabeça de jirico ainda vai imperar. enfim, fquei triste e pensei em compartilhar com alguém que entenderia 


 um beijo 

agora, leitorinha, pense em todas as vezes que você julgou uma mina na boate porque ela tava se deliciando com a própria gostosura. eu merma fico com abuso, tenho que me lembrar de nao ter abuso, de nao ter raiva dela. eu sou feminista terrorista mas tenho ainda uns ímpetos macho-bestiais. vale a pena sempre prestar atencao nesses pensamentos automáticos. eu achei lindo que camila (que me recebeu na sua casa em natal, durante a feitura do projeto e que acabou virando minhamiga) ajudou a menina, sem pestanejar. vou levar o exemplo pra minha vida.

ahahah como nao amar a vogue blasil


"preco ótimo: R$ 800"
hahahahahaha
demais

a sapatilha realmente é bonitinha, num vou mentir. mas fiquei pensando e quero listar o que uma leitorinha normal (melhor dizendo, eu hehe) compraria com R$ 800 (se, claro, de 800 realidades eu dispusesse):
1. uma passagem idivolta saopaulo-chile na gol
1.2 ou DUAS passagens ida e volta berlim-moscou na austrian airlines
2. 20 pacotes de papel ink-jet fine art fosco tamanho 30x40
3. ou 20 caixas (com 5 cada) de filme kodak portra iso 400
4. uma rolleiflex com case de couro e tudo e ainda sobraria uns 100 reais 
5. um mes e um terco do meu aluguel
6. 26 meses do meu plano de celular
7. 6 meses de feira
8. etc

bia bonduki, toni morrison, bolo de fubá e outras obsessoes numa quinzena cheia

1. continuo obcecada em fazer coisas bonitas. as tulipas seguem sendo fotografadas, se bem que eu devia agora era fotografar aspargos. temporada de aspargos!


2. falando neles, cozinhei aspargos pela primeira vez na vida essa semana. achei um saco, um horror, ter que descascar um kilo de aspargos brancos, debaixo da água fria. mas é bonito jogar mel dentro da água na qual eles cozinham, e comê-los depois sob o sol, na varanda, com batatas cozidas com casca e tudo e manteiga.

3. ainda dentro do desejo de fazer coisas bonitas, enchi uma caixa com pequenas preciosidades, velinhas, recados, e uma foto de pepa hristova - que comprei a amigáveis 60 euros num leilao da ostkreuz, a custa de muitos, mas muitos gritos meus, exigindo que a foto fosse minha haha - e dei de presente pro meu namolindo. 

4. e cozinhei também um bolo de fubá. que coisa mais chata, eu realmente nao acho nada bonito cozinhar, mas ver o bolo todo se expandindo no forno e ver a cara do seu homem ao comê-lo e meu próprio prazer leonino com meu êxito culinário valem a chatice do fazimento a pena.

5. trecho de email enviado há 10 dias, muito cedo de manha, insone, desesperada, para minha amiga trovadora susana berivan. sobre toni morrison, sobre escrever, sobre nao escrever, sei lá:

i caaaant sleep since some days und wenn i cross with these
extraordinary women like toni it is a mix of enormous pleasure with
great insatisfaction, for i havent done much extraordinary things
lately. i really miss writing, and writing professionally. i gave up
on writing last year in order to verbessern my photography, and the
more i get closer photography the worse my writing gets HAAHHA but at
least my photos or the way i deal with the medium has been better. 

6. e last but not least - aliás, a razao deste post - é dividir com vocês o post que minha amiga bia bonduki escreveu pra versao brasileira do jezebel. devia ter contado há dias, mas as duas últimas semanas foram malucas de escola e trabalho. ela escreveu sobre o nosso querido projeto. (brigada, bio, só tu pra entender de onde esse trabalho veio e pra onde ele vai. te amos).