Monday, February 28, 2011

nunca mais vou julgar ninguém


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eu mesma me tornei um monstro indiferente de tanto me preocupar com um carimbo, com um teto, com uma bota apropriada. virei um saco de areia.

nem reparei direito que tinha rosas amarelas na mesinha de centro, que era a mesma cidade de sempre, e nem reparei que não liguei que não me esperavas na estacão central. 

nem reparei que segui instintivamente o caminho da tua casa, como se não houvesse outra coisa no mundo a se fazer além de correr na tua direção (e realmente não há). 

nem reparei que tu tomou banho antes de deitar. nem reparei direito que meus brincos continuam pendurados na tua parede. nem reparei que nunca estive desapaixonada, nem um pouco, ao contrário, meu deus. nem reparei direito nos teus olhos olhando pra mim.

nem reparei que era ontem, e já se vão dois anos, tu descia as escadas com uma camiseta de bob marley e eu pensei “deus”.
lucky me.


the artist is present

ano passado, marina abramovic teve uma expo retrospectiva em nova york, cujo título foi pra mim o melhor título de expo da história: "the artist is present".

eu creio que ela batizou a mostra assim porque ela mesma esteve lá, todos os dias, fazendo uma performance na qual interagia com o público.

o ponto é, tanto nas performances das galerias quanto na performance da vida, a presenca física nao significa que se esteja presente.

a expo de nan goldin na berlinische galerie, "berlin works", foi uma experiência de troca que nunca tinha vivido antes. a frase "the artist is present" nao saía da minha cabeca um minuto. nao somente porque nan estava ali inteira e toda, naquelas fotos, como também o sentimento de que nan se entrega completamente no momento em que a foto é feita.

as fotos feitas por ela sao tao cheias dela mesma que é difícil nao ver aquelas 80 e poucas fotos como pequenos enterros de nan. meu deus, como pode uma fotógrafa ser mais manipulada do que manipular?

nan é quase uma vítima fatal das fotografias que tira. ela é o exato oposto do que falei neste post. ainda me impressiona como me parece que cada retrato que ela tira é fruto de tanta devocao, de tanta dor, como se o retratado fosse muito mais poderoso do que ela, que está com a lazarenta câmera na mao.

um passo à direita e mais uma foto na minha frente, e eu mal podia respirar, e o corpo vai se contraindo, e as fotos que ela faz atestam que a perfeicao é possível, quando a gente revê o conceito do que é perfeito.

as pessoas morrem, as pessoas nos esquecem, e nao há fotografia que mude isso. colecionar lembrancas nao é nada além de atestar que ninguém ficou... um pedaco de papel de merda, sobre o qual aplicamos tanto significado, nao passa afinal de uma merda de pedaco de papel.

dá vontade de jogar a câmera no lixo e passar a vida chorando.

marilyn monroe, mais do susan sontag eu ou roland barthes ou qualquer um, tem a melhor definicao do que é fotografia:

"(...) faco amor com a câmera fotográfica. faz menos bem do que com um homem, sem dúvida; mas também faz menos mal. a gente pensa: é só o corpo, é só um olhar que pega você de passagem".

Sunday, February 27, 2011

uma foto de uma foto


hoje mamae tirou uma foto da capa desse disquinho meu e me mandou. ela fez no email uns comentários bem inteligentes, meio freudianos, e eu fiquei aqui pensando:

quando eu tinha 4 anos, chamava minha mae pelo nome.
dava de presente pra ela os presentes que ela me dava.
escrevia meu nome só com letras maiúsculas.
e dizia que nao sabia o que sentia.



já era lispectoriana de pequena HAHA

Sunday, February 20, 2011

jesus, help me find a proper place*

às voltas com as voltas, eu moro no ring, essa coisa horrorosa que circula a cidade de berlin. o que me encanta nessa cidade é sua sujeira, seus ratos de metrô, a indiferenca dos passantes, a língua brutal, a altura dos homens. mas a feiura de neukölln me ofende. me oprime. me devasta. me assusta.

a procissão de mulheres cobertas com lenço ou burca, por motivos culturais ou religiosos, por enquanto ainda me espanta, porque eu não conheço nada do islã e portanto não sei muito bem como lidar. preciso ler mais sobre isso, afinal não moro na oscar freire, moro aqui, nessa cidade, que é desse jeito. tenho vergonha da minha burrice e tenho raiva da minha burrice, porque ela me impede de sentir que eu pertenço a essa paisagem. eu só sei que pertenço a essa paisagem – sou como todos aqui – porque sou marxista. mas eu não sinto isso. me sinto superior a esses homens, que acho selvagens, e superior a essas mulheres, que acho submissas. como se vê, saber não adiante de nada – eu sei que sou igual a eles e elas, mas não é isso que eu sinto. o que eu sinto é um horror: complexo de superioridade. saber não serve de nada.

o fato de neukölln parecer ser uma cidade de médio porte do oriente médio – e minha ignorância diante disso – me põe, mais uma vez, no mesmo lugar conceitual de sempre: where do i belong?

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ando por aí com minha câmera e ficamos, eu e ela, a nos odiar. odeio andar com ela e não querer fotografar nada, e ela se sente ridícula pendurada em meu pescoçoo, uma vez que a ignoro solenemente.

“É evidente que o próprio ato de identificar (para não dizer fotografar) o local pressupõe nossa presença e, conosco, toda a pesada bagagem cultural que carregamos.”

o ato de fotografar pressupõe não somente minha presençaa, como também toda a carga emocional que deposito em cima daquilo que fotografo. escolher alguém para fotograr não é um ato generoso, pois por mais que fotografe o outro, o que eu espero é me encontrar, me ver.

minha beleza anti-geográfica tem preferido ser fotografada e assim, quem sabe, obter respostas - ou ao menos umas pistas. parece que eu sei posar melhor do que fotografar. toda vez que alguém me fotografa aprendo mais do que quando fotografo alguém. minha cara genérica já fez com perguntassem se eu era costa-riquenha, italiana, turca. meu nome é russo. minha chatice é alemôa. meu alemôo soa francês. minha bunda é brasileira. meu tédio é universal.

e o contexto geográfico, o “existimento”, traz consigo outros elementos, as ruas mudam de cor, faz frio ou faz calor, e estar à frente de elementos transitórios me deixa sempre fora de contexto. viro um post-it colado na vida, a cola se acabando, todos os post-its eventualmente descolam.

é por isso que eu nunca estou em paz mesmo quando estou onde quero estar.

a pergunta sempre é: "e quem eu seria e quem eu aparentaria ser, se estivesse em outro lugar em vez de aqui?". o que apareceria então nas minhas fotos?


não satisfeita, como o de costume, já comprei passagens. não posso ver meu nome num ticket de embarque, que já me sinto inteira novamente.


uma foto do meu estado de espírito de harald hauswald@ostkreuz


 caetano veloso em londres


eu por breno rotatori




*the velvet underground

after you get what you want...


... you don't want it.

Friday, February 18, 2011

biografias semelhantes

berlim, verao 2010
clarice lispector

berlim, inverno 2011
marilyn monroe




só evoluo.

Thursday, February 17, 2011

please master




ontem ricardo partipou de uma leitura em friedrichshain, onde apresentou - com toda sua estomacalidade - um dos mais lindos poemas da história mundial. "please master", de allen ginsberg.

Please master can I touch your cheek
please master can I kneel at your feet
please master can I loosen your blue pants
please master can I gaze at your golden haired belly
please master can I gently take down your shorts
please master can I have your thighs bare to my eyes
please master can I take off your clothes below your chair
please master can I kiss your ankles and soul
please master can I touch lips to your muscle hairless thigh
please master can I lay my ear pressed to your stomach
please master can I wrap my arms around your white ass
please master can I lick your groin curled with soft blond fur
please master can I touch my tongue to your rosy asshole
please master may I pass my face to your balls,
please master, please look into my eyes,
please master order me down on the floor,
please master tell me to lick your thick shaft
please master put your rough hands on my bald hairy skull
please master press my mouth to your prick-heart
please master press my face into your belly, pull me slowly strong thumbed
till your dumb hardness fills my throat to the base
till I swallow and taste your delicate flesh-hot prick barrel veined Please
Master push my shoulders away and stare into my eye, & make me bend over the table
please master grab my thighs and lift my ass to your waist
please master your rough hand's stroke on my neck your palm down my backside
please master push me up, my feet on chairs, till my hole feels the breath of your spit and your thumb stroke
please master make me say Please Master Fuck me now Please
Master grease my balls and hairmouth with sweet vaselines
please master stroke your shaft with white creams
please master touch your cock head to my wrinkled self-hole
please master push it in gently, your elbows enwrapped around my breast
your arms passing down to my belly, my penis you touch w/ your little fingers
please master shove it in me a little, a little, a little,
please master sink your droor thing down my behind
& please master make me wiggle my rear to eat up the prick trunk
till my asshalfs cuddle your thighs, my back bent over
till I'm alone sticking out your sword stuck throbbing in me
please master pull out and slowly roll into the bottom
please master lunge it again, and withdraw to the tip
please please master fuck me again with your self, please fuck me Please
Master drive it down till it hurts me the softness the
Softness please master make love to my ass, give body to center & fuck me for good like a girl,
tenderly clasp me please master I take me to thee,
& drive in my belly your selfsame sweet heat-rood
your fingered in solitude Denver or Brooklyn or fucked in a maiden in Paris carlots
please master drive me thy vehicle, body of love drops, sweat fuck
body of tenderness, Give me your dog fuck faster
please master make me go moan on the table
Go moan O please master do fuck me like that
in your rhythm thrill-plunge and pull-back bounce & push down
till I loosen my asshole a dog on the table yelping with terror delight to be loved
Please master call me a dog, an ass beast, a wet asshole
& fuck me more violent, my eyes hid with your palms round my skull
& plunge down in a brutal hard lash thru soft drip-fish
& throb thru five seconds to spurt out your semen heat
over & over, bamming it in while I cry out your name I do love you
please Master.



mereco.

Tuesday, February 15, 2011

auto-consciente

na linha de trem, o ratinho era menor do que maca véia seca e mordida. mas ele queria a maca, todos temos o direito de ter mau gosto. quantas vezes nao ficamos obcecados com algum bofe seco e mordido, nao é mesmo?

por que haveria eu de julgar o rato?

e la estava ele, na linha de trem, lutando pra arrastá-la. de repente o rato desistiu e saiu correndo, sem maca.

é que o trem vinha chegando e ele preferiu nao ser esmagado.

se fosse eu tinha ficado.

uma rainha







minha vó se chama adelaide e eu faco questao de carregar comigo a majestadice que aprendi com ela.

nao fazia a menor ideia que fotos causavam terremotos.

Monday, February 14, 2011

campea mundial

consigo apertar o F5 mais vezes por segundo que qualquer um de vocês.
com tanta coisa pra fazer, acabo nao fazendo porra nenhuma. meu deus, meu deeeeeeeeeus, que agonia.

eu só preciso que alguém me diga quem eu devo ser, pra eu poder me preocupar com coisas mais interessantes.

eu obedeceria, só pra ter quem culpar depois.

walking around

walking around walking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking aroundwalking around

getting lost.

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for goodnews.

Sunday, February 13, 2011

um corpo sem roupa nunca é um corpo desnudo

hoje fui à expo do mapplethorpe no c/o berlin. eu sou obcecada com a obra dele e assim sendo nao tem nada lá que nao tenha visto - ou ao vivo, ou em livros. assim, o que eu gosto de ver nas expos dedicadas à ele é o approach do curador, a montagem.

a coisa que mais gostei nessa expo foi entao um dos textos de abertura, em que o curador diz que um corpo sem roupa que se exibe na verdade nao está verdadeiramente desnudo, pois só se mostra aquilo que se quer. mais que isso, independe de estar vestido ou pelado.

essa semana jörg me mostrou o único retrato que fez de mim quando esteve no brasil. eu estava totalmente vestida, mas ele conseguiu essa qualidade que o curador fala acima, e me deixou desconcertada, quando vi a foto.

sei lá, tô só aqui pensando. nao consigo pensar em nada direito...

Saturday, February 12, 2011

resumindo

estou desesperadamente querendo me apaixonar.

i wanna a little sugar in my bowl

uma e meia da manha do sábado. estou em casa. casa. casa. casa.

estou sentada no chao, com as pernas esticadas. o lap está na mesa de centro, que é de vidro. meu roommate foi dormir, que ele estava com sono. a lumiária está acesa, porque eu odeio luz de teto. lá fora faz -2, porque é inverno. eu estou de meia pelo mesmo motivo. o copo de água está pela metade, porque eu bebi a outra.

as plantas estao murchas, porque o aquecimento seca o ar. minha pele também, pelo mesmo motivo. o cigarro está se consumindo sozinho, porque eu nao gosto de fumo de rolo.

eu estou ansiosa, porque nenhum dos emails que eu queria receber hoje chegaram. eu estou ansiosa, porque meu vestido de noiva imaginário espera na caixa imaginária. eu estou ansiosa, porque nasci assim e tenho prolapso de válvula mitral, como todo mundo. eu estou ansiosa, porque sei que alguma coisa está pra acontecer, só nao sei qual é.

nina simone está cantando, porque sempre que estou triste eu quero ficar mais.

Thursday, February 10, 2011

quem se vira nao se lasca

meu apartamento nao tem geladeira.

minha janela nao tem flores.

assim, ponho os saquinhos de mussarela do lado de fora da janela pra elas nao estragarem.


nem preciso de tulipas.
eu e breno tomamos breja num boteco cheio de rato com nina hagen.

Wednesday, February 09, 2011

obsessao

aí quando eu já tiver muita gente ao redor por aqui e as lembrancas ficarem demasiado próximas, vou aprender russo e me mudar pra sibéria e nunca mais nada vai me lembrar nada.

e se desse pra ir mais longe, eu ia.

Tuesday, February 08, 2011

attention whore

foi mais difícil sair do facebook que do brasil.

brasileiros no metrô

"essa menina parece caetano veloso na década de 70".


"essa menina" era eu.


<3

oh, marilyn...

se eu ainda tenho pesadelos,

se meu coracao dispara de medo porque tem um loiro com cara de junkie subindo as escadas atrás de mim,

se eu ainda me recuso a dormir na casa dos outros depois das festinhas,

se eu ainda olho tanto para trás quando volto pra casa,

deve ser porque eu preciso de terapia.



Monday, February 07, 2011

am rande

em novembro rolou o processo de selecao para a ostkreuz schule, a escola ligada à agência de alemôa de fotografia.

para a primeira fase do processo seletivo, enviei uma edicao de 20 fotos da série 100 men, com a qual consegui ir para a segunda fase, que consistia na realizacao de um assignment indicado pela escola.

eles pediram entao que os candidatos enviassem uma série de 5 a 10 imagens, sob o tema "am rande", que significa "na fronteira", em alemôo.

depois de muito matutar atrás de algo que combinasse tanto com o tema quanto com meus interesses fotográficos, decidi abordar a fronteira de gêneros. fui atrás de gente cujos rostos e histórias indicassem como ficaram obsoletos os símbolos visuais, com os quais determinamos o que é (ser) "masculino" ou "feminino".

foram somente dez dias de prazo entre escolher o que eu ia fotografar, encontrar personagens, fotografar, revelar, editar, scanear e enviar. fico cansada só de lembrar.

com essas fotos, rolou a aprovacao na escola! o curso comeca mês que vem, aqui em berlim. fiquei entre os 15 sortudos finais, de mais de 300. UHU.

aqui vai a edicao final do projeto (com textinho introdutório escrito no meu alemôo da móoca):

Innerhalb des Themas “am Rande”, wollte ich über die Unsicherheit der visuellen Symbole sprechen, die nachweisen wollen, was bedeutet “männlich” und “weiblich” zu sein.







pueblo

que agora eu fumo de rolo, para nao gastar tanto com marlboro.

i'm gonna make a mistake

i'm gonna do it on purpose.
and what i find is mine.




oh, fiona gimme power.

Sunday, February 06, 2011

uma árvore, cujos galhos em cara-de-pau pousados sobre as ancas estao, encara o lenhador e desdenha: bela merda essa serra elétrica.

oi, ivi

quanto mais em silêncio tenho ficado, vendo as árvores do cemitério na frente da minha casa seguirem existindo apesar das condicoes externas, mais tenho percebido que eu sou tipo uma galinha que, apesar de envolta em molho pardo feito do próprio sangue, segue bem da viva.

ou seja: o que importa é a firmeza da carne. é afinal a insolência desse tronco.

Saturday, February 05, 2011

só pra constar...



sem mais.


beijos,
ivi

de manha cedo

nevou.

nao tem flores lá fora.

mas tudo brota em flor sobre essas almofadas.