Saturday, January 22, 2011

da tirania do adjetivo "doido"

ofegante e agoniada cheguei à última linha de um poema de ricardo domeneck.

a intensidade com que ricardo descreve nosso estado incomum, quando nos apaixonamos, sempre me move de um lugar a outro - às vezes eu nao faco ideia onde vou parar, mas é sempre um lugar bonito.

ler este poema, e todos os poemas recentes de ricardo, me leva diretamente a pensar no papel crucial da obsessao para um poeta, para um artista, para um ser humano com veias. a obsessao, a devocao, nao sao defeitos, nao sao fardos.

geralmente se adjetiva gente como ricardo de "doido". "fulano é doido".

pensem duas vezes. doido é pol pot.



peco obcecadamente à minhas leitorinhas que leiam o tal do poema ao qual me refiro, e peco mais: lambuzem-se de paixao, sujem-se de sentimentos pouco nobres tipo apego ódio tesao e ciúme. enfim, nao sejam loucas.

sejam normais.

4 comments:

Sil said...

brilhante.

vodca barata said...

lindo, né, sil?

Sil said...

eu senti o poema queimar minha pele, já me apropriando das palavras.

é lindo de doer.

(assim como é lindo tudo que está nesse texto seu. foi comunhão essa leitura hoje, sério, no sentido largo do termo)

Mayara Pascotto said...

"Eu te amo" de Tom e Chico me veio na cabeça depois de ler esse poema Ivi, é essa mesma "loucura", esse estigma de ensandecidas que levamos todas nós dentro dos amores, dentro de nós:

"Ah, se já perdemos a noção da hora Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão Se na bagunça do teu coracão
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
Ah!..."

E amaremos, e amamos, e normais seremos! É lindo isso, e é o que você disse: "sempre me move de um lugar a outro - às vezes eu nao faço ideia onde vou parar, mas é sempre um lugar bonito."
Bjo Bjo