Thursday, July 30, 2009

52. último post na espanha

me escreveu do sul de portugal, 3 semanas atrás, dizendo que se lembrava de mim quando ouvid homeward bound.

me escreveu do sul da alemanha, 10 dias atrás, dizendo que viu um arco-íris tão grande e lindo, e que queria que eu estivesse lá para ver.

me escreveu mariana hoje sugerindo uma soundtrack pra próxima etapa da minha viagem. que fala das coisas que vi mas que só quero falar sobre, porque não tirei fotos. de como eu queria que as coisas que eu vi fossem vistas por você também.

eu nunca imaginei que seria possível chorar de saudade, assim tão cedo e sabendo que o tempo corre a nosso favor. mas eu estou chorando.

aqui, para quem quiser ouvir.

51. e uma última consideração sobre a península

podem me esculachar o quanto quiserem mas eu não amei tanto assim barcelona. claro que gostei, é lindo, o povo é lindo, tem esse ventinho constante...

mas é um cidade pra adolescentes. nunca vi tanto adolescente na rua, credo.

lisboa e madrid são cidades de adultos - como eu HAHHAHAHAHAHA. minhas preferidas até agora, portanto.

Wednesday, July 29, 2009

50. o mundo gira, o mundo é uma bola

hoje faz um mês que saí do brasil. amanhã faz um mês que chguei em lisboa. hoje li a última página da minha segunda leitura de comer, rezar, amar. amanhã é meu último dia na espanha.

como no seu último dia em bali liz guilbert faz uma pequena lista de pessoas para quem ela queria fazer christina (ou seja, dizer thank you), eu, deitada descalça na grama do meu lugar favorito em barcelona (o parc de ciutadella), fiz a minha listinha de pessoas pra dizer thank you nesse primeiro mês:

. a minha mãe, que aceitou minha única ligação a cobrar com alegria!
. rafa e pio pela listinha de coisas pra ver e pessoas pra ligar, entre elas...
. ... luana, que garantiu a melhor refeição e o melhor papo que tive em madrid
. a luciano, que me deu um presente de dia das crianças inesquecível
. a portuguesa que me salvou depois do assalto em lisboa
. gisela, que me apresentou a...
. ... nadia, que me recebeu do jeito que pôde no seu apê lindo em barcelona
. bruno e catarina
. o menino da colônia
. o google maps
. ao mercado dia (minipreço, em portugal), sempre me fornecendo alimentação barata
. a sophia, minha amiga holandesa, que me deu um ingresso do museu thyssen de presente
. às leitorinhas carol e julia, que me deram dicas preciosas de madrid e barcelona, respectivamente
. ao chá de alho, que espantou meu começo de gripe (thanx mama!)
. a lisboa, ao tejo, ao wi-fi, às companhias de autobus e
. a todo mundo que eu devia agradecer mas sou uó e não lembro


amanhã sigo para o sul da itália, numa idílica viagem de busão que levará quatro dias. tô com tanto medo... mas e daí, né?

:* em todo mundo.

49. agooora sim

então comecei a reparar nos nativos. esses bofe com pele cor de folha de outono, com as canelas roliças de quem anda muito de bicicleta, cabelos castanhos compridos, bigodes grandes de poeta e cara de pirata.

ah bom.

esses são os barcelonos.

UMA SALVA DE PALMA PRA ELES!

48. crash de estampas

logo que cheguei em barcelona achava que todo mundo era bonito. eu olhava praqueles galego bronzeado e dava vontade de bater palma pra eles!

Tuesday, July 28, 2009

47. depois burros são os portugueses...

fazia semanas que eu atazanava a minha pobre mãe, dizendo que não conseguia sacar dinheiro nos cajeros automáticos da espanha.

ela até foi no nosso banco ver se havia algo errado, mas estava tudo bem. errada tava era eu - quer dizer, tava lost in translation do português para o... português.

isto porque a demente aqui, sempre que tentava fazer a transação, selecionava a opção "menu em português". de portugal, claro. e em português de portugal "saque" é "levantamento". e eu via a opção levantamento e achava que era sei lá, tipo saldo, e ficava histérica na frente da máquina "CADÊ A PORRA DO SAQUE???".

aí ontem decidi clicar em levantamento pra ver o que era e voilá. saiu meu dinheirinho. podia ter tentado a primeira vez que vi e poupado minha mãe.

que anta.

46. uma breve palavra sobre os turistas e minha fotografia

o "turista médio" está tão preocupado em não perder nada que acaba perdendo tudo. eles são incapazes de olhar e observar as coisas ao redor - ao contrário, tiram uma foto e vão embora, e outra foto e vão embora e outra foto e vão embora e outra foto e vão embora. aqui em barcelona fiquei impressionada como os turistas estão ansiosos, com suas máquinas sempre a postos e "imparáveis".

eles querem tirar as fotos para poder ver e mostrar, depois, mas certamente não sairão da cidade que visitam com alguma coisa nova para contar - porque em momento nenhum eles estiveram "aqui".

ontem, no parc guell, eu fiquei especialmente nervosa. foi impossível ter um momento de quietude, para contemplar, sabe? para sentir o lugar, pra poder dizer "oi gaudí, muito prazer, eu não te conheço muito bem mas estou super interessada, se mostra aê". fiquei bem morgada com isso...

e essa conversa toda desemboca na resposta para a mini-tempestade de email que tenho recebido das leitorinhas e das amiga perguntando: TÁS TIRANDO FOTO NÃO, PORRA?

não, tô não. trouxe a câmera de filme, e fotografo com muito muito muito amor as poucas coisas que fotografo. tem coisa que eu quero fotografar porque depois quero revelar e prender com um íma na geladeira. mas tem coisa que eu quero carregar no coração pra sempre - a maioria delas, inclusive. pra viver isso, eu tenho que estar presente.

aqui em barcelona tirei 3 fotos: de um cachorro, de uns abuelitos jogando bocha e de dois meninos bonitos sem camisa hahahahaha. o resto guardei no meu coração. afinal de contas, se eu realmente tiver um lapso de memória e quiser relembrar como é la pedrera, vou no google images né minha gente.

é isso. tem foto não.

beijos,
ivo, sempre presente.

Monday, July 27, 2009

45. alimentando a alma

eu esmagreci 4kg e hoje passei um pouco mal na rua porque simplesmente esqueci de comer. será que aqueles cafuçu que fala que se alimenta de luz querem dizer que "luz" = "museu"?

meu dinheiro todo tá indo embora em ingressos de museu e marlboro light. mas vê, quanta gente eu já comi em 4 semanas:

cindy sherman
nan goldin
andy warhol
lucian freud
roy lichtenstein
picasso
gaudi (comi hoje, ainda tô digerindo)
goya
velázquez
alberto garcia alix
sophie cale
annie leibovitz
dorothea lange
edward hopper
matisse
monet
degas
manet
rubens
caravaggio
sergey bratkov
yann gross (caubói!)
ticiano
juan gris
delaunay

amanhã eu vou almoçar robert capa e jantar miró.

NHAM!

44. ok, chegou a hora

de falar sobre cocô - um dos meus assuntos preferidos, vocês sabem.

eu sempre tive uma prisão de ventre de lascar, que só era diminuída com uma rotina muito rígida de caminhadas diárias, all bran com activia e ioga.

antes de vir para cá estava morrendo de medo de ter a prisão de ventre da minha vida - afinal, vocês amigas que sofrem do mesmo mal podem confirmar, quando a gente viaja a situação fica ainda pior.

mas por algum motivo
misterioso
secreto
inexplicável

eu faço cocô em qualquer lugar agora! hahahahaha

até no macba eu fiz cocô - inspirada pelas obras que estavam expostas, aliás. exposição ruim do carai!

43. parece a boa vista

barcelona parece uma versão maximizada do bairro que eu morava em recife.

a diferença é que aqui todo mundo é bonito. e eu não preciso ter medo de cruzar com alguém uó na rua hahahahahah.

42. tô em barceloná

lalalalalá!

41. "it's a man's world"

é impressionante a quantidade de relatos que ouço de meninas contando algum tipo de humilhação e até mesmo de abuso sexual, que aconteceram durante suas mochilagens.

as histórias mais recorrentes são as das meninas que viajaram para a américa do sul - cada uma com quem conversei passou algum mau bocado na mão de algum idiota local. mas claro, tem também histórias do mal ocorridas na europa e na ásia.

a menina com suspeita de gripe suína, mochileira solitária do canadá, antes de ser internada me contou que quando estava em hong kong um cara sentou do lado dela na praça, em plena luz do dia, e pluft botou o pipi pra fora. ela avisou aos policiais, que ficaram olhando para ela como quem diz: "quem mandou usar esse shortinho?".

depois, uma australiana muito querida, outra mochileira solitária, sofreu uma tentativa de estupro na guatemala. ela estava fazendo uma caminhada matinal na praia, quando o cara (um nativo, bêbado) agarrou ela, amarrou suas mãos e a arrastou pra dentro do mar. ela disse que se livrou do cara não se lembra como, mas que eles lutaram por alguns minutos. ela foi à delegacia, e contou que enquanto dava seu depoimento o escrivão não olhou na cara dela um minuto - ficou focado foi nas coxas dela.

minha amiga holandesa, quando estava no equador, foi perseguida por dois caras que gritavam o que fariam com ela se a alcançassem - ela correu feito doida e se escondeu sob um carro por algumas horas para se salvar.

ouvi também relatos de seqüestros e outras coisas, mas é muito triste falar mais sobre isso, aqui. eu mesma tenho minha história pra contar e nem tive que ir para um país exótico para que ela acontecesse.

todas essas coisas me deixam devastada, arrasada. as mochileiras solitárias são muito solidárias, nesse sentido. dão dicas de onde não ir, nas cidades que elas já foram e você, não. a gente sabe que o mundo é cão.

um dia, descendo a rua do alecrim com armin a caminho da praça de camões, conversávamos sobre como eu odeio ser uma menina nesses momentos. e ele, com sua habitual praticidade alemã, encerrou o assunto:

"o mundo é dos homens".

Sunday, July 26, 2009

40. mochileiras mulheres, uni-vos!!

existem dois tipos de mochileiras: as que viajam em bando, são barulhentas, arrogantes e só conversam entre e si - e só conversam sobre a cachaça que tomaram no dia anterior. são, na maior parte das vezes, as americanas e as italianas (das últimas, estou com abuso tremendo).

existe, todavia, outro tipo de mochileira: a mochileira solitária. essas são de matar de amor - são interessantes e interessadas, conversam com todo mundo. são as que ajudam você no seu primeiro dia no hostel, quando você não sabe onde ficam as xícaras nem o caminho para o museu do prado.

as mochileiras solitárias sempre vêem as pessoas fazendo cara de "tô com peninha de você" quando dizem que estão viajando sozinhas. perguntam onde estão seus amigos, para depois arriscar: "aposto que você acabou de sair de um relacionamento ruim".

para as mochileiras que andam em bando, é impossível imaginar que estamos viajando sozinha porque PODEMOS. porque queremos. porque estamos interessadas muito mais no mundão lá fora do que no mundinho dos pubs.

sempre me apaixono pelas mochileiras solitárias - elas parecem guerreiras. em madrid, acabamos formando um mini-grupo: eu; sophia, a pisciana holandesa; e kate, a pisciana australiana. de dia, cada uma fazia seu roteiro (afinal, essa é a melhor parte de viajar sozinha: NUNCA TER QUE NEGOCIAR). à noite, nos encontrávamos para tomar uma cervejinha, comer calamares e dividir as impressões do dia.

mochileiras solitárias conversam com todos, acordam cedo para desbravar a cidade (em vez de ficar enchedo a cara cas amiga até de manhã e depois ir embora da cidade sem ter conversado com um cidadão local sequer), fazem amigos nascidos e criados na cidade, aprendem um pouco da língua, se perdem, se acham...

somos assim, elas e eu. e eu amo cada uma das meninas que encontrei - e de quem me despedi - nessa últimas quatro semanas. elas são minhas jano, minhas clarissa, minhas rachel e carol, minhas joli, minhas ceridono, minhas cilana...

39. enferma en madrid

ok. tenho muitas coisas a dizer sobre minha saúde. muitas coisas aconteceram nesses dias.

1. cheguei no hostel na quinta e soube que uma menina hospedada lá foi internada com suspeita de gripe suína. fiquei bem assustada mas ah, claro, essa vidinha marota sempre a me pregar peças: a menina em questão era a canadense que estava hospedada em meu quarto!

claro que até ela voltar de lá com o resultado dos exames eu tive todos os sintomas da doença - na minha obcecada mente só me restavam poucas horas de vida.

mas não, ela não estava com a gripe swinga (como ficamos fazendo piada na cozinha do hostel). nem eu, espero.

2. de tanto comer os calamares... tive uma intoxicação alimentar. nas primeiras horas do dia achei que as manchinhas vermelhas eram ansiedade por causa do show de madonna (deve ter uma parcela delas que realmente devia ser por isso, que eu me conheço), mas como hoje é domingo e elas ainda estão por aqui, e coçam... intoxicação. como vovó dizia: tudo que é demais é demasia.

3. estou com as costas doendo muito por causa da minha mochila. ela continua com o mesmo peso - 14kg - mas como eu emagreci 4 kg nas últimas semanas (UHU!), significa que só tenho 30kg a mais que o trambolho que carrego nas costas.

4. e a última vocês realmente não vão acreditar: EU PEGUEI BICHO DE PÉ! dá pra acreditar? eu já peguei o danado na minha amada japaratinga, em itamaracá, em brasília teimosa (esse foi tenebroso)... mas me fala: QUEM É QUE PEGA BICHO DE PÉ EM MADRID???????????

Thursday, July 23, 2009

38. sobre annie leibovitz e o desmanchamento de preconceitos

eu sempre tive um breve abuso de annie leibovitz por achar que ela retrocedeu na vida - começou como fotógrafa da rolling stone e "terminou" (entre aspas porque ela ainda não se aposentou, né) clicando nicole kidman de cera para a vanity fair. mas muito do meu abuso diminuiu depois que eu vi o documentário sobre ela.

um passo para trás: em muitas das intermináveis conversas que tive com armin, às vezes eu emitia uma opinião muito natural e ele respondia: this is prejudice. e muitas vezes eu me vi forçada a rever coisas sobre as quais eu sequer havia pensado antes de pensar.

então na terça eu fui ver a exposição de annie leibovitz, a primeira coisa que fiz quando cheguei em madrid, aliás. y bueno, eu tive uma pequena catarse lá.

eu realmente continuo não gostando dos retratos dos pessoal de hollywood que annie faz. mas suas fotos de família, e especialmente e PRINCIPALMENTE as fotos que fez de susan sontag (com quem ela namorou duzentos anos) são tão lindas. esses cliques têm um frescor absurdo, são de uma honestidade tão simples... eu fiquei com lágrimas nos olhos em muitos momentos. annie conseguiu deixar até susan sontag sensual. e o registro de sua morte, a passagem, a transição, a despedida... eu levei mais de duas horas para ver tudo, porque em alguns momentos tinha que dar um tempo olhando para alguma parede branca, para o coração se acalmar.

outra coisa muito boa da expo é que as legendas vêm com comentários da própria annie, e duas coisas que ela fala eu gostei muito e anotei pra comentar com vocês:

"photography takes a new meaning after someone dies" -» tenho pensado muito sobre isso desde então e cheguei a seis mil conclusões hahaha alguém pode dar um pitaco, por favor?

"i know i have to be more involved, to interact more, but i love just to look at them" - aqui ela fala sobre a forma como avedon dirigia seus fotografados, sobre como ela nãp dirige seus fotografados e sobre como ama ficar só olhando suas filhas. eu amei essa frase porque é exatamente assim que me sinto com meninos bonitos - eu prefiro olhar para eles do que interagir e fotografá-los!

enfim, foi uma das experiências mais intensas aqui no velho continente. eu amo como ela consegue encontrar similaridades nos traços de willie nelson e de louise bourgeois. e AMO MUITO o retrato que ela fez de cindy sherman - para mim, essa foi a melhor idéia, a mais genial, a melhor solução para retratar alguém ever.

37. madrid, madrid

como é bom estar aqui! o hostel é bem precário (mas tem wi-fi!) e nem xicara eles têm - wich means eu tô usando um copo de plástico que armin me deu de presente domingo passado.

minha melhor amiga aqui é sophia, uma holandesa muito maravilhosa que também está viajando sozinha. ela consegue falar mais do que eu e, como eu, está morrendo de abuso das italianas barulhentas do caralho que estão no nosso quarto.

também, pudera:

uma delas encheu a cara de sangria e não bastasse passar a noite inteira choramingando, vomitou no chão do quarto... direto de sua cama, que era a de cima da beliche! de modo que ontem de manhã tinha mancha roxa até no teto.

aqui tem um monte de menino bonito, mas definitivamente cheguei à conclusão de que não, espanhóis não fazem meu tipo... at all. e dã os motivos são óbvios.

mas deixa eu falar de annie leibovitz. eu QUERO falar de annie leibovitz.

Wednesday, July 22, 2009

36. sobre como julian casablancas me ajudou em madrid

em toda cidade que eu chego sinto um negócio muito ruim, no primeiro dia. uma ansiedade acachapante e sem explicação. me pergunto: "que diabos estou fazendo aqui? o que tem para fazer aqui? todo mundo vai perceber que estou sozinha e vai ter pena de mim. eu sou ridícula".

meu deus, é o ápice da falta de auto-cumplicidade! y mira, é também bem ególatra pensar isso - afinal quem eu penso que sou para achar que as pessoas vão notar minha mini presença?

e nessas horas de imbecilidade emocional de uma viajant solitária, apenas uma música me vem à cabeça - e me é totalmente acolhedora:

why dont you come over here? we got a city to loooove!

35. eu tenho que me lembrar todo dia

dos reais motivos dessa viagem. todo dia é um teste de distração, e eu me pego triste porque não consigo achar um vôo barato pra roma, ou porque gastei 2 euros a mais do que o planejado para aquele dia. perco completamente o foco.

eu fico nervosa e com raiva que as coisas são mais difíceis do que pensei. fico ansiosa querendo que setembro chegue logo. e tento me lembrar que certas alegrias que tive desde que cheguei aqui nunca estiveram no plano inicial - e que se elas não tivessem acontecido talvez eu não estivesse tão serelepe pela europa. "como seria viajar sem essa sensação, hein, ivi?? antes de estragar tudo com sua ansiedade, que tal ter um pouco de gratidão pela sorte que teve?", eu fico me dizendo. se tantas coisas boas não tivessem acontecido em portugal, talvez eu tivesse curtindo mais córdoba. mas minha cabeça sempre deixa o momento presente para lá e dá uma viajada para o norte, o norte, o norte...

na minha primeira semana em lisboa eu senti um coisa que nunca senti antes: o tal do carpe diem. nunca imaginei que, sendo como sou, experimentaria essa sensação. mas na minha primeira semana em lisboa esse ensinamento se revelou para mim. eu não queria que o tempo passasse nem mais devagar, nem mais rápido - eu senti o sabor de cada segundo, até dos ruins, sem nenhuma pressa, e também sem nenhum tédio. eu posso dizer que nesses dias eu estive plena.

depois fui para córdoba, e aqui foi como reviver a experiência trancoso - uma solidão absurda, que faz a gente pensar sobre tudo sem parar (exercício bom, vale dizer) - só que sem o prazer do ambiente. em trancoso, o exercício do auto-conhecimento foi intenso mas eu tinha a ajuda das coisas ao meu redor, o silêncio, a beleza, a natureza... o sururu!! córdoba, no entanto, ficou muito normal depois do 3º dia, quando eu já tinha visto tudo o que tinha para ver.

foi difícil a passagem por córdoba, confesso. aprendi muito muito sobre história das religiões, aprendi sobre a cabalinha, meu espanhol melhorou 800%... mas afora isso, foi difícil.

eu tento me acalmar e pensar que tudo nos próximos meses é provisório e passageiro - e isso serve tanto para me tranquilizar num momento ruim, quanto para me pôr no meu devido lugar quando estou muito eufórica. eu fico me dizendo que eu tenho que ser uma boa companhia para mim mesma, afinal eu só tenho a mim aqui.

e tem mais: acho que córdoba foi um bom ensaio para o auto-exílio que vou fazer na sicília. onde vou ficar três semanas. sozinha. so zi nha.

mas chega. eu tenho que falar pra vocês sobre madrid. madrid. madrid. estou apaixonada.

34. e os astros se fizeram

nunca nunca nunca conheci tantos leoninos. eu tinha prometido que não ia perguntar o signo de ninguém aqui mas as pessoas simplesmente me dizem! e todo mundo na europa é leonino!

não sei que se passa, acho que europeus gostam de fazer amor em novembro. o fato é que eu sempre tive preconceito com meu signo porque sou insuportável - mas as pessoas mais especiais da minha viagem são leoninas.

santa catarina, minha rainha portuguesa e bailarina; angela, uma muçulmana forte com um sotaque andaluz lindo de putamadre, minha guia em córdoba e consultora especial para assuntos históricos/religiosos; roarie, o inglês que ouvia portishead e andava pelo hostel com bigode desenhado de caneta (e fez um armin e consequentemente eu fiquei com a fuça toda preta); e meu sweet armin, leonino obcecado como eu, arrogante como eu, falante como eu. que faz aniversário no mesmo dia que eu. mentira, estou sonhando. seria madonnice e sean pennzice demais. ele faz aniversário um dia antes.

Tuesday, July 21, 2009

pausa: madonna em madrid

tem alguém aí que vai ver madonna em madrid, na quinta?

ou tem alguém alguém aí que conhece alguém que vai ver madonna em madrid, na quinta?

o show é no estádio do real madrid do lado do meu hostel e super dá pra ir andando, mas eu quero companhia!

interessados: vodcabarata@gmail.com

brigadinha!

33. vida simples, eu quero

quanto menos coisas eu tenho e carrego mais vou vendo que de menos coisas eu preciso.

explico:

agora eu lavo o cabelo com sabonete e depois do banho passo dove (o hidratante) tanto nas canela quanto nos cabelos. tomo água de torneira. corto o cabelo com a tesourinha de unha da alemã que mora comigo. uso duas vezes o mesmo saquinho de chá...

é tão bom.

e a única coisa que comprei (além de tickets de museu e calamares... e passagens pra lisboa hahaha) foi um postal pra armin, por 1,20.

ps: já estou em madrid e daqui dois dias tem show de madonna!!!!

32. últimas impressões sobre córdoba

. as mulheres se arrumam sem medo de ser feliz, andam maquiadas e escovadas, com batom vermelho e muitas jóias. as mais velhas são especialmente encantadoras na sua cafonice espanhola. não tem informação de moda porra nenhuma mas tem uma exuberância que eu não posso descrever de outro jeito que não "espanhola".

. os cachorros da espanha são do tamanho de pintos, um horror

. as pessoas são incapazes de falar baixo. uma delícia!

31. muy bien

meu curso acabou e meu espanhol é nível b1 - que signifca algo como intermediário bem bom.

Monday, July 20, 2009

30. o lado ruim da solidão

eu sempre fui meio solitária. nunca tive muita escolha, mas também nunca me foi um grande drama, é algo de minha personalidade, pronto acabou. carrego em meu coração e na minha vida as mesmas amigas há anos, mas eu preciso e gosto de isolamento. na maior parte do tempo estou a fim de ficar sozinha, num isolamento que tanto pode ser físico (tipo ir-me embora para santa catarina pensar na vida por 4 dias) ou simbólico, que é aquele bem clichê, de ficar em quietude mesmo cercado de mil gentes.

o ponto é: o exílio voluntário é muito fácil e prazeroso. outra coisa é se sentir e estar sozinha porque, ops, não tem ninguém em volta. eu tenho sentido um mini desespero de perceber que saí do brasil para ficar sozinha e que, sim, estou sozinha, porque não tenho escolha. não tem ninguém aqui. vale dizer que me refiro especificamente a experiência córdoba - lisboa não foi assim e creio que madrid e barcelona também não serão.

então cá estou eu, deitada no chão do meu lonely room no meu lonely apartamento. me contorcendo de ansiedade e pedindo a jah que faça chegar logo amanhã de manhã, preu poder pegar meu ônibus e sair correndo para madrid. e aí me lembrei da seguinte passagem de comer, rezar, amar, que eu vou reproduzir aqui para vocês porque é muito importante:

"(...) por outro lado, quando seria uma boa hora do dia, ou da vida, para ficar sentada em alheia imobilidade? quando é que não existe nada zumbindo em volta, tentando distrair você e provocar alguma reação? (...) então propus uma experiência a mim mesma: e se eu aguentasse isso, para variar? e se eu aguentasse o desconforto por um breve período da minha longa vida?"

e aí, se eu conseguir, também vou poder me perguntar, feliz feito pinto na bosta: "e o que serei capaz de fazer amanhã que ainda não sou capaz de fazer hoje?".

pensar nisso me encheu de esperança em mim mesma. maybe i can make it!

29. sobre a comida, sobre a siesta

eu me prometi que durante minha estada em córdoba gastaria apenas 10 euros por dia. se você for uma pessoa parcimoniosa, consegue fazê-lo, sim. meus gastos básicos são comida, el país (ainda preciso falar sobre o jornalismo espanhol, é uma aberração maravilhosa), marlboro light, cartões telefônicos pra ligar pra alemanha, entrada de museus ou monumentos, los helados e - oh my god, oh my god - os calamares fritos. mas, claro, não tudo isso num dia só - tenho que escolher o que vou comprar a cada dia.

calamares são lulas e minha paixão maior na espanha, so far. como calamares fritos quase todos os dias num restaurante barato em frente ao parque que tem perto do meu apartamento. chego lá por volta das 15h, com meu marlboro e meu comer, rezar, amar, el país e fico umas duas horas. uma porção de lulas fritas mais duas coca-colas sai por 5,20 euros. eu acho bem digno. é minha única refeição do dia (em casa eu como um montão de iogurte natural com fibre, o equivalente espanhol do all bran, e muito chá vermelho, que aqui é uma pechincha!).

meu espanhol está estupendo, como me disse minha amiga cila, uma equatoriana ex-dona de escola em quito e agora faxineira na andalucia. é porque todo dia, além das aulas, leio el país todinho, anotando todas as palavras que não conheço e depois traduzo com meu dicionário péssimo. além disso, claro, eu tagarelo com todo mundo na rua, puxo assunto sobre qualquer assunto, é um tanto ridículo, mas eu vim aqui para estudar espanhol (e cabala), coños!

sim, mas falamos de comida.

ontem foi um dia atípico em que gastei uma pequena fortuna de 20 euros passeando e comendo. no almoço, comi um tal de salpicón de mariscos, que é como um vinagrete misturado com peixe, lula, caranguejo, camarão... de chorar, de chorar, chorar.

à noite, na volta do passeio que fizemos a um sítio arqueológico aqui perto, tomei um tinto de verano (vinho tinto com sprite, mas juro que é bom!) com gambas (camarões gelados com muito sal grosso, um horror, mas depois do tinto de verano tava até bom!). e azeitonas, e outra coca... enfim. ontem gastei 20 euros como se não houvesse amanhã.

daí que hoje quis poupar. comprei um macarrão de microondas no dia (aqui tem dia!) por 82 centavos, mais uma baguete de 0,39, pra comer em casa. e pensei: se eu me aquietar em casa e fizer a siesta, fico mais duas horas sem gastar $$ querendo tomar un helado!

idéia de jerico. eu sempre soube que odiava a siesta - a que os outros fazem principalmente. minha primeira siesta, portanto, foi um fracasso. comer e dormir não é comigo. a única coisa que consegui foi uma dor de cabeça dos infernos quando acordei.

28. o silêncio

viajar sozinha faz com que eu fique muitas horas em absoluto silêncio.

é maravilhoso.

27. gracias, córdoba

demorou, mas finalmente essa cidade se revelou para mim. vim para cá para estudar a cabala e as suas raizes - e não podia ter vindo para um lugar mais certo.

para nao me aprofundar muito em assuntos chatos, digo apenas que mil anos atrás viviam auqi, e em paz, judeus, árabes e cristãos. as ruínas e prédios históricos de aqui são de tremer o joelho. uma delas, a torre de la calahora, que fica do outro lado do guadalquivir, me é especialmente especial.

lá de cima dá para ver a cidade inteira.

Sunday, July 19, 2009

26. el guadalquivir (e o hostel de lisboa, atendendo a pedidos)

dia desses deus cansou do seu café com leite e jogo o resto que tinha no caneco bem no meio da espanha. o resultado é o rio guadalquivir, que corta toda a andalucia.

aqui em cordóba ele tem a cor de uma média. nas suas margens, girassóis, matinhos beges e sempre-vivas. em suas águas, muitos patinhos e, agora morram do coração, ruínas de moinhos de água, com quase mil anos, despontam na superfície.

em sevilha passei coisa de duas horas caminhando em suas margens. lá ele tem a cor dos olhos de armin.


§


leitorinhas, o hostel que fiquei em lisboa chama oasis. quando chegarem lá digam que foi adelaide do brasil que indicou e POR FAVOR façam a x-day trip com meu amigo bruno, o português.

25. estratégia para praticar espanhol, parte um

decidi que tinha que conversar. com qualquer um na rua. meu target: vovós e vovôs. que aliás aqui não faltam.

então puxava assunto com toda vovó que via pela frente (dona rosário é minha melhor amiga, cordobeza da gema, de 83 anos, nascida e criada aqui que, segundo ela, é a melhor terra do mundo. bigoduda como as mulheres da península tem que ser!) e foi muito boa essa idéia.

só não deu para hacer amigos abuelitos. toda vez que puxava assunto com um vovô, já vinha todo animado "y no te gustan las copas, hijita?".

são vovôs, mas são espanhóis!

(de modo que agora só converso com as vovozinhas, mesmo...).

Saturday, July 18, 2009

24. estratégia para praticar espanhol, parte dois

no meu apartamento moram duas alemãs que não falam espanhol at all e um espanhol que só quer falar português comigo. então tive que dar um jeito para praticar a língua fora da aula.

e então o que comecei a fazer foi: saio de casa sabendo para onde vou (estou viciada no google maps) mas finjo que me perco só pra poder puxar assunto com o povo e fazer amigos. já fiz alguns. mas essa tática é nova. a outra não funcionou muito bem.

23. para jano

jana, as espanholas todas usam lápis de boca muito mais escuro que o batom!!! é maravilhoso! aqui é cheio de ciganas, e elas são bem esquisitas, mas eu adoro porque me lembro de tu!

22. falando nisso

aqui todos os casais (i mean TODOS), de 20 ou 40 ou 80 anos andam de mãos dadas. se em lisboa o que mais me chamou a atenção foram as pixações, aqui foi isso. os casais andam de mãos dadas e mesmo os casais de coroas (perdoem a expressão) se beijam o tempo todo.

tipo.

se BEIJAM.

21. minha primeira conversa em espanhol (ou "alguém por favor me diga o que há com os españoles)

fazia tipo 20 minutos que eu tinha chegado em córdoba, carregando uma mochila de 15 quilos que mais me fazia parecer um caracol, suada, com a cara brilhando, com cara de saudade. me sentei num café (por dios, o único aberto num raio de 5 quilometros) para esperar a dona do apartamento com as chaves, quando me chega um espanhol muito do bonitinho e simplesmente SENTA na minha mesa.

pede um cigarro, fala meia dúzia de besteira e depois me solta:

quieres salir conmigo hoy?

não bastasse perguntou meu telefone.

agradeci, falei que não poderia, ele fez uma cara muito espanhola (não sei descrever, podem chamar de "cara de picasso") e saiu.

e vale dizer que esta foi a primeira de várias. e não é porque eu sou linda não (hahahahah). é que, de fato, os espanhóis gostam de mulher.

Friday, July 17, 2009

20. então vamos falar da espanha

cheguei em córdoba vinda de uma noite solitária em sevilha, num domingo quente pra se fuder. desci do ônibus com ódio da espanha só porque ela não é portugal. creiam vocês ou não, tocava la isla bonita, da M., que na noite anterior fora citada por meu amigo bruno, o português, como sua música preferida dela. dei uma risadinha irônica... para ninguém.

cheguei em córdoba bem na hora da siesta. não há ninguém nas ruas a esta hora e tudo está fechado. some-se a isso o fato de que, no verão, faz 40º graus à noite, de modo que todos vão à praia (málaga, cádiz...) e a cidade fica vazia. e, por "todos", entenda "todos vovôs de córdoba", porque aqui só tem vovô.

caminhando pela cidade a caminho do apartamento (eu aluguei um quarto num apê, já que vou ficar duas semanas. é mais econômico do que ficar todo este tempo em um hostel) percebi várias semelhanças entre córdoba e caruaru, e fiquei um pouco deprimida.

mas vale. cheguei inteira e o quarto tem ar condicionado - item básico de sobrevivência, tanto quanto água. aqui tem fontes e bebedouros espalhados pela cidade inteira, nunca estive num canto tão quente, até gravatá do jaburu é mais fresquinho.

no dia seguinte começou meu curso de espanhol, e na minha turma tem uma inglesa, uma polonesa chata e um pastor americano. claro que meu melhor amigo é o pastor americano porque, mais uma vez, ficamos conversando de willie nelson e - uau! - john wayne. num espanhol de tirar o chapéu de cowboy. hihi.

19. a vida é a arte do encontro

meu sonho é que tenha um terremoto que mude a geografia do mundo. e assim alemanha e brasil vao ser tipo... caruaru e gravatá do jaburu.

18. e o domingo

me pegou às 12h05 (pontualmente atrasado, me explicou) e fomos ao museu do fado. pediu para eu traduzir tudo, e eu o fiz, e quanto entusiasmo transborda desse alemão pseudo-niilista.

depois de duas horas de amália rodrigues e traduções macarrônicas, subimos alfama andando. paramos embaixo de um pé de laranjas, só para olhar. subimos mais. paramos num restaurantezinho escondidinho e vagabundo (depois eu vi uma barata no banheiro), mas que nos serviu deliciosas sardinhas assadas no sal grosso a 3 euros. do nosso lado, um cachorro muito português dormia como um bebê, além de bigodudas senhoras muito portuguesas, tão folclõricas que, não bastassem ter bigodes, tinham também aqueles sinais de carne grandes e claros, como os de carlota joaquina. eu e armin ficamos lá umas 13 horas comendo devagar - com direito a uma ridicula sessão de engasgamento de minha parte - e tentando fazer que as horas corressem ao contrário. mas, ao contrário, correram depressa demais.

aí voltamos a descer alfama de volta ao bairro alto para que eu pudesse comer o 14º pastelzinho de belém do dia.

e aí já que a terra redonda e o céu é azul, compramos vinho, pão e queijo. vimos o pôr do sol no miradouro de santa catarina. e pensamos em terremotos.

Wednesday, July 15, 2009

17. e mais outra

depois do museu encontrei - por acaso! - com meu amigo bruno, o português, que também estava a comprar pasteizinhos de belém ali perto do monastério dos jerônimos. voltei para o hostel de carona com ele, não sem antes parar no miradouro de santa catarina para encontrar com a namorada dele, (santa) catarina, fumar meia dúzia de cigarros ao tejo e depois voltar pro hostel.

quando estávamos lá no jardim do hostel, sem fazer absolutamente nada a não ser lindos hahaha, apareceu o menino from cologne, todo malamanhado como o de costume com um exemplar de assim falou zaratrusta numa mão, como o de costume, e um pacote de cigarro de rolo na outra, como é novidade - cansou do gosto do marlboro, me explicou.

então ele conheceu meus amigos portugueses e posso dizer que foi mais do que aprovado!

nesse dia a gente jantou junto com meia dúzia de americanas - essas eram bem chatas - e era tão bonitinho ver a cara de entojo dele, olhando para mim cada vez que elas falavam alguma tabaquice.

nessa noite a gente num fez nada, só ficou deitado no chão do rooftop do hostel, vendo a lua, enquanto uns ingleses enchiam a cara (claro!) ouvindo (não-claro!) portishead.

16. mais impressões lisboetas

aí deus colocou ovo e manteiga e açúcar, pôs no forno, tirou do forno, jogou por cima sem nenhuma parcimônia canela e açúcar de confeiteiro.

e assim nasceu o maravilhoso, único, sem concorrênias, bom pra caralho pastelzinho de belém.

15. jana, famous worldwide

deixa eu contar. sábado o menino from cologne quis ir para o museu gulbenkian, que eu já tinha ido na semana anterior, então ele foi para lá e eu fui para a fundação berardo (que tem a coleção de arte moderna mais de cair o queixo que já vi).

apois que estava eu na parada esperando o ônibus, quando me chega uma portuguesinha muito da bonitinha e me pergunta: tu és ivi?

quase caio para trás. como alguém me reconhece em lisboa? será que estou sendo procurada pela polícia por ter roubado um coração?? hahahaha

e a rapariga portuguesa me explica: é que eu leio o blog da jana.

aí caí para trás de vez. verônica é o nome da mocinha em questão (oi verônica!) e eu só quero dizer:

JANA, ME DÁ UM AUTÓGRAFO?

Tuesday, July 14, 2009

14. queria falar da espanha

mas nao consigo.

meu lugar preferido na europa tem nome proprio. e um e noventa.

hihi.

13. a testemunha

no sabado, silencioso e escuro, o tejo nos ouviu falar sobre veludo e encontros. no terraço do ultimo andar do hotel, com a lua crescente, uma garrafa dágua e muitos cigarros. nos ouviu dar aula de portgues e alemao. me entendeu melhor.

no domingo, o tejo se despediu do sol conosco. sentados no chao, no miradouro de santa catarina, eu, ele, drug dealers, vovozinhas portuguesas a falar mal dos outros, criancinhas portuguesas a tocar o terror, turistas japoneses e musicos romenos.

enquanto ele falava de fernando pessoa (razao que o faz ir parar em lisboa), o sol se punha, e eu ia tirando a pele deste despreparado e "bronzeado" turista alemao.

na noite de domingo, o tejo riu da gente, bebendo vinho sentados no chao de uma calçada qualquer. nos perguntou se nao iamos dormir, coños, sao cinco da manha e continuam tagarelando.

e por fim nos viu fazer um pequeno drama na escada do hostel, depois dele recitar poesias em alemao. e depois, prometeu: em setembro tudo será como hoje.

12. en las autovias

sempre pensei que fazia muito esforço pelos outros. gastei dinheiro, senti dor (na depilaçao), perdi coisas, dei presentes que nao devia.

e viajei quilometros. o trajeto de cordoba ate lisboa é longo, com muitos onibus, e eu me perguntei, no caminho, se nao estava arriscando demais.

mas no momento que cheguei em lisboa vi que nao. nao somente porque lá me derreto.

é que vi que as pessoas fazem grandes esforços pela gente também.

Sunday, July 12, 2009

11. um minuto de silencio

entao o sol nasceu no tejo e eu ouvi:

"i'll be your harbour"

Thursday, July 09, 2009

10. os girassois da andalucia estao mortos!

saio de lisboa para faro. com vontade de chorar. com saudade. faro e' so' uma parada. de la, pego um onibus para sevilha.

durmo uma noite em sevilha me sentindo devastada. quem mandou deixar lisboa? sai cedo a caminho da rodoviaria, para pegar mais um onibus, agora para cordoba, meu destino final. ao menos por enquanto.

e a coisa que mais me chama a atencao eh:

os girarrois da andalucia estao mortos. secos. quilometros e quilometros de flores mortas.


so' agora - ja faz dias que estou aqui - que descubro porque. mas so vou contar depois. antes, tenho que falar dos casais espanhois, dos vovôs espanhois e de rafa.

rafa. guapo. mas chegou tarde!

vou sumir uns dias porque mañana me vuelvo a lisboa para passar o fim de semana. porque sim.

Wednesday, July 08, 2009

9. nao queria contar mas vou

fui assaltada no metro. e so pensava: mas sai do brasil pra ser assaltada na europa? que buceta.

y mira, nao foi roubada, tipo ops sumiu a carteira. fui assaltada.

mas sabe que quando a tristeza passa, fica tudo bem. e' como um wake up call, que a europa e' europa mas ainda e' planeta terra. acho que deus mandou essa experiencia no comeco pra me dar um seligue e evitar grandes decepcoes quando eu ja estivesse achando que estou no paraiso.

lisboa e' mesmo muito intensa. veja. em uma semana, tudo aconteceu. do amor ao terror. ao amor de novo.




y ahora...

andalucia!

Tuesday, July 07, 2009

8. me prendam aqui para sempre, p'r fav'r?

na minha ultima noite em lisboa decidi ter uma tao boa quanto a primeira. queria fazer uma despedida para mim mesma.

comprei um vinho delicioso chamado "porca de murca" por dois euros, paes a 50 centavos e mais um queijo mara que nem sei nem dizer o nome, por mais dois euros.

sentei sozinha no jardim do hostel, abri o vinho e la fiquei, admirando a mim mesma. afinal la estava eu, às margens do tejo, tomando um vinho. sozinha.

mas so durou 5 minutos. daqui a pouco, sentaram-se comigo o dono do hostel, um divertidissimo americano do novo mexico, nicole, outra australiana viajante soliaria, bruno, o guia nao-oficial do hostel e sua namorada, santa catarina.

tinha prometido que nao ia perguntar o signo de ninguem e ate aquela noite tinha conseguido - ainda nao sei o do moco from cologne, por exemplo.

mas na minha ultima noite em lisboa eu fiz o mapa astral de todos os bebados do hostel, de graca. e foi um sucesso. astronomico.

Sunday, July 05, 2009

7. a tasca do chico

e' uma casa de fado escondida no bairro alto, em que vovôs portugueses cantam fado de graca sentados nas suas very mesas. nao e' um show, nao tem palco.

e' tipo uma celebracao ao sangue portugues.

6. santa catarina

catarina e' um portuguesa de ombros largos. fala grosso, tipo antonia. olha no olho, fala alto, diz o que pensa.

catarina e' catarina a grande, e' bailarina, nasceu em 1982 tambe'm e e' leonina tambe'm.

minha nova paixao lisboeta.

5. summer time

voces nao fazem ideia do meu bronze portugues, dignamente adquirido em cascais.

5. comer. rezar. amar.

trouxe o livro e sim e estou lendo-o pela segunda vez. e voces nao fazem ideia a quantidade de amigas que fiz desde entao, ao me verem segurando o livro. me param no bondinho, no hostel e nas ruas, para dividir impressoes sobre ele.

ate' as inglesas se dignaram a falar comigo quando viram o que eu lia.

eu era tipo julia roberts da rua santa catarina.

4. um grau de separacao

passei a adolescencia inteira pensando em dar um jeito de ir para a australia para ficar amiga do silverchair - coisa que nunca consegui, claro.

pois que ontem estava eu conversando com melinda, uma australiana espertinha que vai ficar oito meses viajando o mundo (o brasil esta' no roteiro), quando ela olha para minha camiseta (do silverchair, que uso com orgulho desde 1999) e diz:

sou de newcastle tambe'm. minha tia foi professora do daniel.


assim, "do daniel", toda intima. ou seja: melinda e' minha jesus luz.

3. molly jean e lynn

nao e' de se espantar que as meninas que eu mais gostei de conversar, depois das portuguesas, foram, claro, as texanas. elas eram as mais emperiquitadas do hostel e eu achei bem apropriado ficar amiga delas.

jantamos bacalhau a cinco euros (lagrimas de amor) e ficamos coisa de quatro horas a conversar sobre willien nelson e toda a histo'ria da musica country.

por incrivel que pareca, elas eram a mais open-minded do hostel e inteiro e eu me apaixonei por elas. porque, logo digo, francesas sao insuportaveis.

Saturday, July 04, 2009

2. armin, from cologne

"dear ivi,

last night you touched my soul. maybe we will never see us again (sic), but of course we will in my kingdom of dreams"










achei embaixo do meu travesseiro.

1.2 a verborragia portuguesa (de novo)

estava eu fotografando umas pixacoes aqui perto do hostel, quando uma vovo' portuguesa me para e pergunta (pelo amor de deus leia com sotaque portugues):

estas a fotografar as pinturas rupestres?

nao e' um jeito maravilhoso de ver as coisas?

ontem, andando pelas proximidades da casa de fernando pessoa, cruzei com outra vovo' portuguesa, que estava a passear com seu cachorro. bem no meu ouvido, ela gritou (para o cachorro):

NAO PISES NA MERDA, FORRO'!

quao lindo eh ter um cachorro que se chama forro' - e que tem uma dona velhinha que grita "merda" na rua?

ja sinto saudades de lisboa.

Friday, July 03, 2009

1. a verborragia portuguesa

andar em lisboa e' como ler um livro de auto-ajuda gigante.

a cada rua, um novo conselho, pixado ou em stencil. "ninguem pode sonhar por ti" e' o mais comum de todos - que, claro, esta devidamente fotografado. e' "o amor e' importante porra" na versao lisboeta.

ontem, no miradouro da graca, vi um bem neurotico: "ANGELA, SERA QUE NAO PERCEBES? ESTOU APAIXONADO POR TI!".

e toda histeria me e' tao apropriada, passo o dia tendo ataques histericos por dentro. sou histerica e sou normal, em lisboa. portanto, me sinto em casa.

portugueses sao tao histericos que a promocao da kibon (que aqui se chama "ola'") nao e' juntar palitos para concorrer a uma casa propria ou um home theater. quem ganha a promocao tem direito a mandar uma mensagem de amor daquelas penduradas num aviao.

sim.

acho que vim parar no lugar certo.